Existe uma obsessão estranha da sociedade em ser o mais perfeito possível no quesito aparência. Não tô dizendo que aparência não importa. Importa, sim. Atração existe, beleza existe, e ninguém é obrigado a fingir que não liga pra isso. Eu mesmo gosto de beleza, gosto de pessoas bonitas, gosto da ideia de ser um cara atraente. Isso é humano. O ponto não é negar a beleza. O ponto é até onde isso vai. Trabalhando em um ambiente com gente de poder econômico mais alto, comecei a reparar num padrão bizarro. Todo mundo com o mesmo sorriso, as mesmas lentes de contato nos dentes, os mesmos procedimentos estéticos, o mesmo visual “bem cuidado”. Era bonito, mas era uma beleza superficial, padronizada, quase industrial. Não parecia escolha individual, parecia obrigação social. E aí vem a pergunta que me incomoda: até que ponto isso ainda é cuidado pessoal e até que ponto é não se aceitar? Em que momento a busca por ser atraente deixa de ser saudável e vira uma corrida sem linha de chegada, onde ninguém nunca tá satisfeito? Também não tô romantizando o extremo oposto. Não acho que todo mundo tem que ser “aceito de qualquer jeito” ou que autocuidado é irrelevante. Isso também é uma fantasia confortável. O problema não é querer melhorar, é viver em função de parecer perfeito o tempo todo, como se qualquer imperfeição fosse um defeito moral. A sensação que fica é que a beleza, do jeito que a sociedade trata hoje, não é mais sobre estética ou atração. É sobre status, pertencimento e medo de ficar pra trás. Ser bonito virou um requisito social, não uma expressão pessoal. No fim das contas, a pergunta não é “beleza importa?”. Importa. A pergunta real é: quanto da nossa vida a gente tá disposto a gastar tentando parecer algo que, no fundo, ninguém consegue sustentar por muito tempo.
Essas procuras desesperadas, não por beleza, mas por tudo, seja sucesso, seja "superioridade" moral ou intelectual, o que seja, são frutos da concepção mais antiga e básica que temos enquanto espécie:
Somos essencialmente sociais, e só por isso permanecemos até hoje.
Então, no fim, a busca é por pertencimento, aceitação, identidade própria pela validação alheia.
É só um processo natural e próprio a nós por definição.
Mas, na coisa do prejuízo coletivo, essa manifestação, da beleza perfeita, é bem menos prejudicial que outras que entopem igrejas e, essas sim, custam muitas vidas desde muito