Naruto Clássico é superior ao Shippuden porque apresenta uma visão muito mais coerente e original do que significa ser um ninja. No início da série, o foco não está na força bruta ou em explosões de poder, mas sim em inteligência, estratégia, leitura do inimigo, armadilhas e decisões táticas. Um ninja é retratado como um soldado de elite, especializado em infiltração, espionagem, assassinato silencioso e missões de risco, não como um semideus da destruição.

Durante o Clássico, vemos lutas decididas por planejamento, uso criativo de jutsus simples e até pelo cansaço físico e mental dos personagens. Exemplos claros são as batalhas do Exame Chunin, onde vencer nem sempre significava ser mais forte, mas pensar melhor. Isso dava peso real às consequências e tornava cada confronto tenso e imprevisível.

No entanto, essa proposta começa a se perder ainda no final do Clássico, e no Shippuden isso se intensifica drasticamente. A série abandona aos poucos o conceito de ninja tático e caminha para algo muito mais épico e grandioso, com lutas cada vez mais escaladas, poderes desproporcionais e personagens que praticamente resolvem tudo na base da força absurda.

Isso fica ainda mais evidente quando analisamos as retcons feitas ao longo da história. No começo, somos apresentados a diversas kekkei genkai, cada uma com seu valor e mistério. O Sharingan, por exemplo, era apenas uma entre várias habilidades especiais, mas no Shippuden ele passa a dominar completamente a narrativa, acumulando novos poderes quase infinitos e se tornando o centro de praticamente todos os conflitos importantes.

Além disso, a construção inicial dos vilões deixa claro que Itachi e Orochimaru seriam antagonistas centrais, figuras sombrias e moralmente condenáveis. Com o tempo, porém, ambos são redimidos ou suavizados, especialmente Itachi, o que enfraquece o impacto de suas ações passadas e altera completamente a intenção original da obra.

Tudo isso aponta para uma mudança clara de direção. Naruto nasceu como algo inovador, mais pé no chão dentro de sua própria fantasia, com uma identidade própria. Mas, ao longo do tempo, essa identidade foi sendo moldada por um fator muito específico: o apelo comercial. O Shippuden se torna mais mainstream, mais fácil de vender, com personagens mais poderosos, batalhas maiores e um tom quase mitológico — algo que funciona para o marketing, mas sacrifica a essência inicial.

Por isso, na minha visão, Naruto Clássico é melhor. Ele tinha limites, tensão, criatividade e uma proposta clara. O Shippuden pode ser mais grandioso, mas é justamente nesse exagero que Naruto se perde e se distancia daquilo que o tornou especial no começo.