Pessoal, queria ouvir especialmente quem já estudou, fez intercâmbio, mestrado/doutorado, pós-doc ou trabalhou em universidades fora do Brasil. Pensando em estrutura acadêmica, cultura universitária, ensino, pesquisa, burocracia ou relação universidade–sociedade, o que vocês viram no exterior e queriam ver também implementado (ou adaptado) na USP? Pode ser algo grande ou pequeno: desde práticas de sala de aula, organização administrativa, avaliação, apoio a estudantes, infraestrutura, internacionalização, até questões mais culturais. Se possível, comentem também onde foi a experiência e em que contexto.

  • Dinheiro para ir a conferências internacionais e bolsas de pesquisa com valores internacionais.  Uma outra coisa que seria legal também é a interface empresa-universidade (o IPT tenta fazer algo desse gênero).  Para o pessoal que precisa dos laboratórios, material de qualidade, novo e em grande quantidade (incluindo computadores). Enfim, no geral é isso.

    Para ser sincero, nossas universidades têm uma boa infraestrutura, tanto a USP quanto a maioria das federais. O que falta é o dinheiro mesmo (para bolsas, conferências, pesquisa de campo, equipamentos), mas em termos de pesquisa, a gente consegue se destacar e chegar pau a pau das pesquisas nas grandes universidades. Não estamos tão atrás assim, a diferença é pequena, e temos coisas que fora do Brasil são difíceis de achar, tipo financiamento incondicionado ao tema de pesquisa (lá fora existem agendas de financiamento), empregos acadêmicos estáveis após o doutorado, valorização de periódicos locais e gratuitos, porosidade para fora da universidade com as ações de extensão.

    Pois é. A Fapesp é o que nos salva um pouco aqui em SP né. Mas não é suficiente.

    Pois é. A Fapesp é o que nos salva um pouco aqui em SP né. Mas não é suficiente.

  • Sinceramente?

    Sistema de seleção de talentos. Mas isso é praticamente impossível de ser implementado sem mudança brusca na educação básica e no acesso a oportunidades durante o período escolar. Não vejo isso acontecendo enquanto eu estiver vivo.

    Sem muitos detalhes, de acordo com minha experiência internacional, tem um país que tem um foco absurdo em buscar talentos desde a infância: eles aplicam testes no país inteiro durante a educação infantil para achar esses talentos e depois investem neles com vários cursos à parte da escola e aulas mais avançadas, competições , viagens etc para estimular o intelecto e o conhecimento, >totalmente gratuito<. Depois disso, o sistema de seleção >pras universidades< envolve esse processo.

    Conclusão: os melhores alunos de verdade entram nas melhores universidades e a diferença é muito brusca em relação a USP. O objetivo não é ofender ninguém, só elencar o que eu vi: você parece estar em outro mundo. Todo mundo ali ganhou vários prêmios escolares e sabe muita coisa mais avançada antes mesmo de ter entrado na universidade e isso é totalmente independente da renda da família deles. São todos MUITO inteligentes. Papo de 5 minutos de conversa e vc já perceber. E com isso, o ensino é, também, mais avançado (papo de ver matéria que aqui é de doutorado na graduação, pois os alunos entram com uma base já muito forte) e mais tortuoso (tem muito uma cultura de ter que sofrer para aprender). O ambiente é bem competitivo. Ganharam vários Nobels em pouco tempo. Na USP, você raramente vê esse tipo de aluno e, de acordo com o que observei, ele costuma estar sozinho.

    Há um problema na USP: lembro-me de um aluno que era muito inteligente e entrou pelo provão paulista, ele era bem pobre e não tinha base - por isso, acabou desistindo do curso, não conseguia acompanhar. Enquanto isso, muitos que ficaram eram esforçados, mas não inteligentes, e possuíam base vinda de escolas melhores. Em suma: a maioria na USP é esforçada, mas não inteligente e a base entre os alunos difere ENORMEMENTE (alguns viram cálculo na escola, pois vieram de colégios caros, outros mal sabem somar frações) e o ensino precisa nivelar cada vez mais pra baixo por causa disso. >NA MINHA EXPERIÊNCIA<, o Brasil e a USP perdem MUITO abandonando esses talentos mais pobres e um sistema de seleção implementado em conjunto com as universidades faria muito a diferença.

    Interessante. Claro que a viabilidade disso desde a infância é um problema, como você mesmo já começou dizendo, mas seria interessante ter pelo menos um sistema como os Honors Programs dos EUA. Classes menores para alunos selecionados onde é possível avançar com um conteúdo até o nível de pós. Mas prevejo muita resistência por n motivos.

    Na usp até tem meios pra graduando avançar o conteúdo até o nível de pós. Alunos da usp podem se matricular como alunos especiais e frequentar disciplinas da pós, assim eles já se livram delas pra poderem focar mais na tese ou dissertação quando chegarem no PPG, claro que depende do docente aceitar o requerimento do aluno especial.

    Sim, mas são poucas disciplinas e na prática é difícil conseguir. Tem um número muito limitado de vagas e, pelo que me lembro, precisava de indicação relacionada à iniciação científica, pelo menos na vez em que me comuniquei com o professor sobre. Fora que, como citei, os alunos mais pobres e que são inteligentes, porém tiveram base ruim, jamais se beneficiariam de tal iniciativa. É algo bem paliativo e que não melhora muito a situação geral atual.

    Sim, mas é um pouco diferente. São poucas disciplinas que são apenas versões aprofundadas da graduação. De todo modo, é um começo.

  • Internacionalização da universidade. Onde curso graduação, nos EUA, existem centenas de estudantes internacionais, muitos com bolsas; na USP, a quantidade de estrangeiros/contribuintes à ciência vindos do exterior é muito menor

  • O que eu faria se tivesse o poder seria:

    1) Para todos os cursos da USP (com excecao talvez dos muito adaptados especificamente pra sociedade brasileira como Letras-Portugues, Direito, etc.), existir toda a grade horaria basica para concluir o curso em ingles, e ter 5-10% das vagas do cursos reservadas para ingresso de alunos internacionais, cobrando mensalidade.

    2) Melhoria da infraestrutura para os alunos, forcando que para cada aluno de pos graduacao ingressando o professor tenha um computador (em alguns casos dependendo do curso espaco de bancada) para o uso daquele aluno, e para alunos de graduacao expansao das pro-alunos de forma que qualquer aluno tenha condicoes de fazer 100% dos trabalhos e licoes da faculdade sem precisar ter um laptop proprio.

    Seria bom se tivessemos mais dinheiro para conferencias, mas eh dificil justificar isso quando a participacao em uma mera conferencia as vezes ja da mais que 1 ano de salario de um aluno, somando o quanto a gente tem que viajar para chegar no lugar e os precos de tudo em dolar. Acho que no geral a estrutura e beneficios da USP esta muito muito acima da media mundial exceto na internacionalizacao.