Há uns meses fiz um post imenso aqui falando como eu não me sentia feliz no meu relacionamento e pensava em terminar. E este vai ser outro post imenso, mas contando outro lado da história. Não vou comentar da outra parte neste post, senão vai ficar maior ainda.
Para contextualizar: Comecei a ficar muito doente no início do ano. Fiquei internada, e atualmente estou esperando por duas cirurgias, enquanto estou de cama em casa por 6 meses. Tive um pré diagnóstico da médica que estava acompanhando meu caso, onde eu tive suspeita de câncer pelos exames. E só a possibilidade disso trouxe um baque muito grande na minha vida. Pois é muito comum na minha família as mulheres morrerem de câncer. Acreditei nisso por dois meses (antes de desmentirem o pré diagnóstico), e embarquei em um universo de suposições diferentes. E acabei falando pro meu namorado que se fosse verdade, eu não suportaria ver ele passando por isso comigo e deixaria ele pra ele ser feliz.
E nesse meio tempo, eu entrei numa suposição que se eu só tivesse alguns anos de vida, gostaria de fazer coisas que me deixariam mais feliz, pois sempre passei a vida tentando não decepcionar todo mundo. Comecei a ter um choque de realidade pra muita coisa, pois tempo pra refletir é o que não me falta no momento. E com isso, eu não conseguia tirar meu antigo amor da cabeça. Nunca chamei de ex namorado, porque esse termo não me cabe com ele. Oito anos e meio sem nos falarmos, e tudo que eu pensava era saber como ele estava e queria poder conversar com ele de qualquer jeito. E eu pensava fortemente, que se eu pudesse, eu passaria até meu último dia de vida com ele, longe de todos. Essas coisas não saíam da minha cabeça.
Pois bem, eu chamei ele no ig e começamos a conversar do absoluto nada. Parecia que o tempo nem tinha passado. Contei que estava doente e ele se preocupava comigo todos os dias; soube também que ele ficou muito doente por mais de um ano e por pouco sobreviveu. Começamos a relembrar muitas coisas do passado, compartilhamos coisas materiais que guardamos até hoje, e fomos nos atualizando do presente. Eu tinha me esquecido que por mais diferente que fôssemos, éramos completamente iguais. Uma frase nossa era: as nossas diferenças se encaixam assim como nossas igualdades.
Ele é muito respeitoso e não tentou nada além de uma conversa diária. E eu também não. Até porque ele sabia muito bem que eu namorava. E por mais que não tivéssemos segundas intenções por não poder fazer isso no momento, por respeito, era nítido os flertes muito sutis. O problema, é que a gente sabe que a gente se ama. E eu sei que continuei a amar ele esse tempo todo, eu só me acostumei a esquecer.
Eu tinha 17 e ele 18. Ficamos juntos por 1 ano. Foram meses ficando e meses namorando. E depois, por força maior, fui obrigada a terminar com ele. Minha família não aceitava ele, por ele ser muito diferente de mim, e acharam que ele me faria mal. Eu me arrependi no dia seguinte de ter terminado com ele, me bateu uma dor absurda e eu fui na casa dele, pra pedir desculpas e cogitando seguir com o namoro, só que escondido, pois sabia que seria o único jeito. Mas ele estava tão incrédulo com a desculpa que dei pra terminarmos, que ele disse que não queria mais nada, e eu nem consegui falar.
Um mês depois, teve uma festa de aniversário de uma amiga nossa. Foi a primeira vez que nos vimos depois de tudo. Saímos da festa pra conversar, andamos até nosso lugar e tivemos uma situationship naquela noite. Ficamos juntos como se fosse a última vez. E foi mesmo.
Seis meses depois, eu só queria esquecer ele e conheci meu namorado. Minha família não o rejeitou e nem questionou o relacionamento em nada, pois partilhava da mesma religião e era de família tradicional. Coisa que antes foi uma dor de cabeça sem fim, dessa vez foi fácil até demais. E começamos a namorar, pois tinha encontrado um cara mais certo.
Dois anos depois, eu entrei no meu tumblr e tinha uma mensagem dele me dando feliz aniversário, desejando minha felicidade e pedindo perdão por ter quebrado a nossa promessa. Nisso, eu descobri que ele continou a me escrever textos no tumblr por 1 ano. Coisa que eu também fiz.
Só nos víamos algumas vezes por aí, de longe, pois moramos no mesmo bairro ainda. Mas em todos esses anos eu nunca tentei falar com ele, pois achava que ele me odiasse depois de tudo. E ele também nunca tentou falar comigo pois achava que fosse o melhor pra mim.
Conversando nesse reencontro, esclarecemos coisas do passado. E descobrimos até que algumas informações não eram passadas, impedindo da gente saber um do outro nesse meio tempo.
Uma forma de expressão nossa era através de músicas. E depois que voltamos a nos falar, ele postou muitas que diziam muito.
Depois de 1 mês conversando diariamente e carinhosamente, ele começou a se afastar de mim aos poucos. E o que passou de muitas conversas diárias, se tornou muita conversa em 1 dia a cada duas semanas durante 2 meses. E toda vez que a gente se falava, independente do tempo, era como se fosse o dia seguinte. Ele me disse que estava bem mal e por isso começou a sumir. Comecei a ficar muito triste por ele estar desaparecendo aos poucos. Depois acabei descobrindo por um amigo em comum, que ele começou a se afastar de mim porque eu estava namorando.
Passei meses nutrindo esse sentimento por ele novamente, que voltou mais forte do que nunca desde tudo. Eu me senti muito mal pelo meu namorado, pois sentia que estava traindo ele em sentimentos nesses meses e pedi um tempo pra ele. E pretendo manter esse tempo até eu melhorar e sair dessa cama, pois no momento estou muito confusa. Sei que preciso resolver meu passado e não é justo com ele. Ele esteve do meu lado esse tempo que estou mal, vindo me visitar e me ajudando como pode. Eu me sinto incompleta do lado dele tem anos, mas sei que aprendi a amar ele. Tenho medo de estar fazendo o errado e perder ele, mas também tenho medo de estar com ele e não ser feliz.
dá pra sentir, em cada linha do seu desabafo, o quanto tudo isso foi atravessado por medo, amor, perda, culpa e, principalmente, por uma necessidade enorme de sentido diante da fragilidade da vida.
quando a possibilidade da morte aparece, mesmo que depois seja descartada, ela muda tudo. é natural que o coração vá buscar aquilo que ficou mal resolvido, aquilo que foi interrompido antes de amadurecer. o amor que não teve encerramento costuma voltar não porque nunca passou, mas porque nunca pôde ser vivido até o fim.
esse reencontro veio num momento em que você estava mais vulnerável, mais honesta consigo mesma, menos disposta a fingir. isso não diminui nem invalida o que você construiu com seu namorado atual, mas mostra que são sentimentos de naturezas diferentes.
seu namorado atual parece ter sido apoio, presença e cuidado num momento muito difícil da sua vida. isso é valioso, mas amor não se sustenta apenas em gratidão, estabilidade ou em “ser o certo”. a sensação de incompletude que você descreve não surgiu agora ela já existia antes do diagnóstico, ele só arrancou o band aid dessa "ferida".
talvez o maior medo não seja perder alguém, mas assumir que escolher a si mesma pode decepcionar pessoas. e esse é um padrão que você mesma reconhece ter carregado a vida toda. só que agora, pela primeira vez, você se viu obrigada a encarar uma pergunta que não aceita mais respostas adiadas.
não se cobre decisões definitivas agora. você está fragilizada, emocionalmente e fisicamente. o tempo que você pediu não precisa ser apenas um intervalo entre duas escolhas, mas um espaço de escuta interna.
seja mais gentil com você. você não está atrasada, confusa “demais” ou errada. você está acordando e vivendo.
A sua resposta foi como um abraço pra mim e me fez chorar. Muito obrigada por isso, de verdade. Vou tentar o meu possível pra não me cobrar decidir algo assim agora.
nossa, me enxerguei nesse post, mesmo que de uma forma bem diferente. vou resumir: há pouco mais de um ano eu terminei um relacionamento e dei 800 motivos pra terminar, mas só fui encarar a realidade recentemente: depois de passar por uma crise mental severa que durou uns seis meses, eu cheguei à conclusão de que "não queria passar pelo fim do mundo do lado dele".
esse fim do mundo pode ser figurado, no sentido da minha crise mental, ou literal, considerando que muito disso era ansiedade climática, política e tudo o mais. nessa época, nós estávamos nos preparando para morar juntos, com apê escolhido e tudo o mais. quando batemos o martelo, senti toda a ansiedade que eu carregava piorar, mas fiquei até muito recentemente sem entender o porquê dessa piora. hoje eu entendo: eu estava mal, muito mal, e com medo de ficar muito pior. mas tinha mais medo ainda de piorar e não ter suporte, ou do mundo ficar insuportável e eu precisar passar por tudo ao lado de alguém que não me dava conforto.
na época do término, me entendi apaixonada por um antigo amor também. senti que nele ia achar amparo, que ele me conhecia melhor, tudo isso. até cheguei a correr atrás dele, mas enquanto lidava com meus sentimentos (todos eles, independente do motivo ou da origem) fui entendendo aos poucos que, quando nos sentimos desamparadas, tendemos a procurar acolhimento nas nossas expectativas e criamos a certeza de que a solução está naquilo que sonhamos.
e, quer saber? talvez esteja mesmo! a vida é uma só, é só uma chance de testar todas as possibilidades. mas nunca, NUNCA podemos deixar de lado o nosso poder de amparar a nós mesmas pra que, quando alguma pessoa nos faça mal ou vá contra nossas expectativas, não precisemos sonhar pra encontrar esse amparo. pra que possamos ser fortes, explicar como preferimos viver e lutar por aquilo que consideramos digno pra nós.
meu conselho, então, é: escute seu coração. mas, antes de mais nada, deixe o seu mundo se acalmar o suficiente pra que você consiga ouvir ele com clareza. e viva! :)