Esses dias me surgiu uma dúvida: como os psicólogos sabem que seus pacientes nem sempre são a vítima ou a parte prejudicada da história?
Pra contextualizar, tenho um colega que já foi muito meu amigo. Ainda mantenho contato com ele porque ele namora minha cunhada. Ele tem alguns problemas e faz terapia, mas também tem atitudes bem questionáveis. Queria focar em uma situação específica.
Ele e minha namorada nunca se deram bem, principalmente porque ele não é um bom namorado para a irmã dela. No passado, os dois se implicavam bastante e havia muitas discussões. Em alguns momentos, minha namorada até começava as brigas, mas eu conversei com ela sobre isso e hoje ela está muito mais tranquila: não provoca, não entra em discussão e praticamente ignora.
Já ele continua com o mesmo comportamento. Uma atitude que acho especialmente feia é o fato de, do nada, ele começar a falar mal da minha namorada para a própria namorada dele. Sem motivo aparente, como se não conseguisse superar as coisas ou como se precisasse criar conflitos que ninguém mais quer.
Imagino que ele leve essas histórias para a psicóloga, provavelmente se colocando como vítima e pintando minha namorada como a grande vilã. Isso me fez questionar: como o psicólogo filtra as informações que recebe? Como ele percebe que a pessoa pode não ser tão correta assim ou que tem comportamentos problemáticos?
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Nem sempre sabe, mas o processo muitas vezes passa por caminhos em que isso não é primordial para o processo. Terapeuta não é uma pessoa que toma partido e aconselha fazer X ou Z baseado em historinha, se fosse isso seria um grande problema
De primeira, não sabem, ponto.
O psicólogo não é um juiz, ele está lá e só pode saber de um recorte da historia, sempre o do paciente.
Por isso terapia só “funciona” (na maioria das vezes) quando o paciente realmente deseja mudar algo que enxerga como um problema.
Muitas vezes a própria terapia serve para que o paciente enxergue algo em si que é o problema e então abre possibilidade para a mudança.
Agora, especificamente sobre mentiras, ja ocorreu de eu perceber que um paciente estava distorcendo algo (contar a mesma situação em sessões diferentes e haverem informações importantes que se contradizem) e quando ocorre é necessário entender o momento da terapia, afinal, “cutucar” o paciente no momento errado pode levar ao abandono e desistência do tratamento
Se ele esta mentindo e distorcendo pode ser pq ainda não confia o suficiente no terapeuta (dentre uma serie de motivos) e construir essa confiança é MUITO mais importante do que sair apontando e dizendo que ele esta me enganando
Resumidamente, de duas formas genérica: Padrões de comportamento (principalmente, incongruência), mas o principal método e mais seguro, é também mais técnico e difícil de explicar, é o esquema em função.
Reforço tem um efeito genérico, que é o aumento da frequência do comportamento relacionado. Vítimas não tem frequência de comportamento danoso aumentado.
O que é muito mais comum é a pessoa nem saber quando ela tá tendo ações que geram prejuízo a um terceiro, é a gigantesca maioria dos casos.
Sinceramente, não me preocupo com isso. A terapia é sobre o paciente e sobre o que ele vive, enxerga, sente… Vou trabalhar da forma que ele trouxer pra mim. Se são pacientes com alguma patologia que tem como sintoma a manipulação e mentiras, aí fico atento por deslizes e faço mais intervenções sobre o comportamento do paciente a depender do plano de ação
E como se diferencia um paciente com essa patologia de mentiras e um com não?
Olha, nem sempre, mas depois de um tempo acredito que sim. Muita gente tem “comportamentos tóxicos” e não se dá conta, mas normalmente dá pra catar, até por geralmente essas coisas aparecerem como padrão e eventualmente na própria relação com o psi (arrisco dizer quase sempre).
Mas não espere que o psi aja como um educador ou um juíz. O manejo precisa ser empático, por mais comportamentos tóxico que a pessoa apresente. Até porque ser assim é um prejuízo danado para o próprio paciente.
E tem pacientes que conseguem fazer a auto crítica desses comportamentos, mas tem dificuldade em regula-los, ou são muito inflexíveis cognitivamente e não tem a dimensão de como isso pode ser ruim não só para os outros, mas também para si.
Kkjjjjjj eu já atendi criminoso ou pacientes que não são criminosos, num geral da pra saber pelo discurso, mas nosso trabalho n é julgar, é mais transformar através do que a pessoa trás mesmo
Vou responder a partir da minha experiência como psicanalista, terapeuta sistêmico e também atuando com hipnose clínica.
Na prática, a terapia nunca é sobre descobrir quem está certo, quem é o vilão ou quem é a vítima da história. Esse tipo de lógica moral não é o eixo do trabalho clínico. O foco não está nos outros, mas na forma como a própria pessoa se coloca nas situações e lida com os desconfortos que surgem.
Mesmo quando alguém chega contando uma história em que parece claramente prejudicado, o terapeuta não trabalha tomando aquilo como verdade absoluta, nem como mentira. O que interessa é observar padrões, repetições, contradições, afetos envolvidos e, principalmente, o lugar que o paciente ocupa nas próprias narrativas.
Com o tempo, não é incomum que apareçam inconsistências ou comportamentos que se repetem em diferentes relações. Isso não exige que o terapeuta “desmascare” o paciente. A própria fala, ao se repetir, acaba mostrando onde a pessoa contribui para os conflitos que vive.
Por isso, terapia não é um tribunal nem um espaço de validação automática. É um lugar para olhar como alguém reage às frustrações, como lida com o incômodo, com o ressentimento, com a raiva ou com a necessidade de conflito. Mesmo quando a pessoa se vê como vítima, esse posicionamento também se torna material de trabalho clínico.
Em resumo, o terapeuta não precisa saber exatamente o que aconteceu fora do consultório para trabalhar. O que importa é como aquilo é vivido, elaborado e repetido pelo próprio paciente.
Não é tão difícil perceber, mesmo tendo só a versão dele, a fala vem carregada de vitimização ou de superioridade… a pessoa nunca assume que pode ter sequer uma parcela de contribuição pro conflito. Pronto.
Não importa, no processo terapêutico, se o que o paciente fala é real de fato.
o contexo diz mais que o conteúdo..
É, mas nesse tipo de situação o contexto não é algo neutro e universal, uma "verdade" a ser descoberta. O contexto é também a fala da pessoa que atendemos.
Certamente.
Um bom psicólogo faz muito mais do que só validar a narrativa da pessoa. Aliás, frequentemente isso é desaconselhável.
não sabemos, e não importa saber.
Como já dito, nosso papel não é o de policial ou juiz. Ele levar as ideias e a versão dele para a terapia é o esperado e o terapeuta vai trabalhar com isso.
Em casos graves, porém, é comum falar com familiares da pessoa para alinhar a rede de cuidado e com isso se descobre mais elementos e se amplia o raio de intervenção (mas dificilmente terapeutas convencionais vão fazer isso, por "n" motivos). Só que mesmo nesses casos, o papel do terapeuta não é provar nada pro paciente e sim ajudar ele a partir do sofrimento que lhe acomete.
E para que eu preciso saber se ele é vítima ou não?
Não sabemos. Trabalhamos com as informações que o paciente nos trás, e quando ouvimos alguém de fora, nem sempre dá para saber quem está falando a verdade. O importante é que não incentivamos ninguém a tomar atitudes que vão contra a ética, não incentivamos atos de mal caratismo. No caso dele, ele se sente injustiçado, incrédulo com está garota, o que um psicólogo faria, é ajudá-lo a lidar com este sentimento e fazer com que ele tome as escolhas que melhor vão favorece-lo, mas levando em conta que não se deve prejudicar os outros eticamente. Mesmo que ele possa ser o errado, também temos que ter em mente que aquela pessoa ainda é um humano e existe motivos para ele ser assim.
O papel do psicólogo não é fazer juízo de valor. O papel do psicólogo, ao meu ver, é ouvir, analisar, ajudar o paciente a entender porquê certos comportamentos acontecem e, principalmente, ajudar o paciente a estar feliz com as próprias ações baseado nos valores do paciente, não do psicólogo. Note que não tô falando de crimes aqui, obviamente, mas sim de coisas subjetivas que podem ser julgadas como certo por uma pessoa e errado por outra.
não nos interessa se o paciente é vítima ou não, o que nos importa é o que isso está trazendo de sofrimento para o paciente e/ou para as pessoas ao redor dele. e isso vai se mostrando conforme o próprio relato do paciente, como ele enxerga o mundo. mas isso não é o importante, assim como não é o mais relevante saber se ele está mentindo ou não.
Ninguém consegue manter uma narrativa falsa pra sempre, por isso o psicológico deve ser capaz de notar os deslizes nas histórias e fazer perguntas que colocam isso em cheque