Antes de tudo, preciso contextualizar. O texto é extenso porque o assunto também o é. O apresentador Flávio Cavalcanti tinha um quadro de grande sucesso em seu programa, no qual tocava discos e/ou convidava artistas para apresentarem suas canções, que eram avaliadas pelo júri. Observem a breve aparição do grupo Os Tincoãs. Nesse programa, exibido em 1980 pela TV Tupi, o cantor Gerson King Combo se apresenta com capuz, mascarado, fazendo playback/mímica e sem mencionar seu verdadeiro nome artístico. Em suma, apresenta-se como um cantor misterioso. A música é intitulada Melô do Mão Branca.

E quem era Mão Branca? Tratava-se de um justiceiro dos anos 1960/70 que atuava na Baixada Fluminense. É aí que o folclore se divide: muitos acreditam que não passava de um personagem criado pela imprensa carioca. De fato, existiam grupos de extermínio paramilitares, formados por policiais, soldados e outros, chamados Mão Branca, que não agiam apenas contra bandidos, mas também serviam como braço da ditadura contra qualquer pessoa considerada “subversiva”, como grevistas, comunistas etc. Sendo um personagem ou diversos grupos, a prática existia: o extermínio à margem da lei.

A música causou muita polêmica quando foi lançada, não apenas pela temática, mas também pela forma. É interessante observar como o apresentador e os jurados reagiram diante de um estilo novo para a época. Hoje, alguns especialistas classificam essa música como proto-rap. Inclusive, a canção Deixa Isso Pra Lá, de Jair Rodrigues, considerada por muitos como o primeiro rap da música brasileira, é mencionada pelo jurado Jésus Rocha, diante de algo que ele não conseguia definir bem.

Diversos argumentos foram usados pelos jurados para criticar a canção, entre eles a suposta apologia ao crime. Confesso que fiquei surpreso ao ver os jurados e, principalmente, Flávio Cavalcanti adotando uma postura contrária aos justiceiros e mencionando a quantidade de inocentes que morriam nas mãos desses grupos. Não sei se, hoje, esse tipo de pensamento se manteria; talvez a opinião da sociedade fosse mais extrema do que a emitida por Vera Gimenez (sim, atriz e mãe da apresentadora Luciana Gimenez).

Compartilho este vídeo porque considero um momento muito curioso da nossa cultura, que não recebeu grande atenção no YouTube, vide as meras 700 visualizações até agora. É um vídeo rico, cheio de camadas e aberto às mais variadas análises. Não sei se elas ocorrerão aqui no grupo, mas o debate está iniciado.

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